terça-feira, 5 de junho de 2018

Entre tapas e beijos

Histórias de viagens são sempre cheias de surpresas. Isto porque quando a gente é jovem, nunca planeja nada. Alguém dá a ideia, todo mundo se anima e pronto. A viagem já está marcada. Aí, é só colocar um biquíni na mochila, arranjar um meio de transporte e se mandar. Ninguém está muito preocupado com o que vai comer e nem onde vai dormir mas, apesar de parecer loucura, tudo dá certo. É claro que não é uma viagem de primeira classe, mas é o suficiente. Você pode se instalar em um camping, comendo sanduíche de atum e dormindo em uma barraca abarrotada de gente sem nem perceber como tudo aquilo é horrível.

O primeiro acampamento da gente da casa das janelas azuis foi em 1979. Não me lembro de quem foi a ideia, mas a turma se mandou para Friburgo, na região serrana do estado do Rio. Nessa época, alguns daquele grupo já haviam completado 18 anos, o que significa que esses sortudos podiam levar o resto de carro. Foi só arrumar algumas barracas e sacos de dormir, fazer compras no mercadinho, colocar toda a tranqueira nos porta-malas e pronto. Em cerca de duas horas já estavam no tal camping.
Com certeza você deve estar se perguntando o que estar em um camping de Friburgo tem de bom e essa é uma pergunta difícil de responder. Dorme-se mal, come-se mal, o frio atrapalha, a falta de água quente para o banho atrapalha, a falta de um banheiro decente atrapalha. Tudo é bem complicado, mas a galera não estava nem aí. A única coisa que importava era conviver com os amigos o tempo todo e você pode notar que não tem ninguém com cara de triste na foto aí de cima. Não sei explicar bem tantos sorrisos, só sei que quando a gente é jovem nossos olhos vêem as coisas de maneira diferente. Um passeio na mata, um jogo de vôlei, um mergulho no rio e uma macarronada bastam para nos fazer esquecer da vida. Se o dia estiver ensolarado, melhor ainda.

Hoje, quando olho para as fotografias de tantos anos atrás, fico imaginando como seria a nossa vida se essa energia e esse desprendimento tivessem perdurado. Se ao ficarmos mais velhos, ao invés de mais exigentes no que diz respeito ao nosso conforto físico, continuássemos como quando jovens, buscando o conforto da alma nas pequenas coisas. Nada muito especial, só um pouco do aconchego dos abraços e dos beijos de quem amamos e uma risada bem gostosa. Mas não acontece assim, não é mesmo?

Quanto mais velhos, mais exigimos da vida. Queremos camas macias e, de preferência, extra-grandes. Queremos refeições harmonizadas com os melhores vinhos e transporte eficiente e veloz. Queremos roupas bacanas, o último modelo de celular e televisões enormes, com imagens incrivelmente reais, que nos prendam no sofá para vermos a vida passar dentro de nossas casas decoradas por outras pessoas. Uma pena, mas ainda dá tempo de voltarmos a dar importância aos momentos simples que nos fazem bem. Não custa nada, tá tudo dentro da sua própria cabeça. É só tentar.

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